Resenha: Freud e a cocaína
"A muitos psiquiatras do século XIX, ou "doutores de manicômios", como eram chamados, não ocorreu perguntar aos pacientes o que os perturbava porque, afinal, estes eram loucos, e os seus pensamentos e sentimentos eram patológicos." (pág. 44)
David Cohen é o autor de uma série de livros, apesar de no Brasil terem chego muito poucos. Ele já escreveu várias biografias e livros mais científicos sobre, por exemplo, o desenvolvimento da mente das crianças. Aqui vemos um a relação de Freud, o início da psicanálise e o paralelo com o uso das drogas - com foco maior na cocaína, que foi muito utilizada por Freud. O livro abrange como ocorreu o descobrimento de algumas drogas, seus efeitos devido ao uso até suas consequências nos dias atuais. Vemos também muito sobre a vida de Freud e seus colegas mais próximos, e todos os erros que o psicanalista tentou apagar de sua história.
Este é o tipo de livro que deve ser estudado, e não apenas lido como fiz. Ter um bloco de anotações ao lado, para ir lembrando quem e o que cada personagem fez. E além dos personagens conhecemos uma série de drogas (algumas que não tinha ouvido falar) e seus efeitos, descritos por usuários. Só para terem uma ideia, são quase 30 páginas apenas de referências bibliográficas - então realmente é muita história para ser aprendida.
Acredito que o autor tenha sua parcela de culpa também. Talvez por querer incluir todas as informações possíveis e, após, tendo que resumir o seu livro para essas 300 e poucas páginas muitas coisas tenham ficado corridas. São muitas pessoas apresentadas, e as vezes desnecessariamente. Perto do fim, por exemplo, ele cita Stalin, Trotsky e Lenin em poucos parágrafos, apenas para introduzir a história da neta de Trotsky no México. Porque não começar apenas falando sobre a neta?
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Capa brasileira / Capa original |
Outra coisa que me incomodou foi o fato do autor ser excessivamente crítico com Freud. Conheço muito pouco sobre a história do psicanalista, e percebo que ele deve ter sido uma pessoa um pouco prepotente, mas foram muitas críticas desnecessárias. Sim, Freud quis esconder seus arquivos, queimou provas de coisas que fez e escondeu até o fim da vida seu uso com a cocaína. Mas quem, em sã consciência, talvez não tivesse feito o mesmo ao ver as burrices que cometeu? Claro que ele poderia ter utilizado seus erros para ser humilde e mostrar aos outros que não seguissem esse caminho, mas nem todo mundo é tão altruísta.
"O ensaio sobre Dostoiévski é uma cátedra sobre o uso seletivo de evidências para chegar a uma conclusão claramente absurda, a qual, em suas mãos, soa quase plausível. À maneira dos autores mais engenhosos de histórias policiais, ele sabia dar voltar na trama de um modo surpreendente." (pág. 224, sobre a habilidade de Freud ao descrever os casos de seus pacientes)
Aconselho esse livro a quem já tenha um prévio conhecimento - ou tempo para ir assimilando e adquirindo o conhecimento - sobre drogas e, ao menos, os psicólogos e psicanalistas mais famosos. O autor faz uma reflexão bem interessante e atual sobre o comércio das drogas nos dias de hoje e a incoerência que é o fato de não se permitir a pesquisa sobre drogas existentes e a ampla gama de analgésicos, estimulantes e antidepressivos que são receitados diariamente. É um livro muito interessante e não tenho como negar isto, mas infelizmente não foi o tipo de leitura que buscava no momento.
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2/5 - Regular |
Mais informações:
Freud e a cocaínaTítulo original: Freud on cokeAutor: David CohenPáginas: 364
3 comentários
Realmente é um livro bem interessante, sobre como ocorreu o descobrimento de algumas drogas e tudo mais, é uma coisa que quero saber.
ResponderExcluirUma pena o autor ter pecado em algumas coisas. :/
Amei a resenha! Bjs, Tami <3
Nunca ouvi falar deste livro.
ResponderExcluirMas não me interessei por ele não.
Não e o gênero literário que costumo ler...
Abraços
Bruna do blog: Cantinho da Bruna -
@blogcantinhoBL
Menina, é a primeira vez que leio algo desse livro.
ResponderExcluirNão é uma leitura pra mim...